Autodefinição
Sempre tive um pouco de implicância com autodefinição, não sei exatamente o porquê, mas repetia pra mim:
-" não é legal ficar falando de si mesmo por aí ".
Preciso confessar, porém que o verdadeiro motivo da minha implicância, seja reflexo de uma personalidade um tanto ranzinza...
O fato é que esses dias, li uma crônica de um amigo meu, onde ele falava de si mesmo e todo aquele autoconhecimento e sinceridade, além do texto bem escrito, despertou em mim uma vontade de escrever um pouco sobre mim. Pois é, "paguei a língua".
Terça-feira, 02 de janeiro de 2018 ( tinha certeza que era segunda )
Por Gisele Lance
Já preferi chocolate branco, mas hoje prefiro meio amargo. Não exijo muito das pessoas em minha volta, tendo a valorizar cada pequena coisa boa que vejo nelas, mas sou cruel comigo, e sofro com isso.
Gosto de padrão, coerência, harmonia; ando na rua consertando as coisas mentalmente, os buracos da via, as calçadas, o meio fio, nem as árvores me escapam. Conserto meu corpo, minha vida, meu passado, minha família, minha cidade, um cachorro que passa...
É quase uma obsessão pelo "ideal". Muitas vezes sou incoerente e contraditória. Queria tanto ser 100% coerente. Antes de escrever a frase anterior, pensei pra ver se tinha coerência.
Eu amo água de coco, acho aquele gostinho nem doce nem salgado, incrível. Amo olhar pro céu e ainda mais olhar pro mar. Queria morar mais perto dele, tenho a sensação que isso ajudaria no convívio comigo. Não gosto de acordar tarde, mas tenho dificuldade em acordar cedo. Gosto muito de falar, gosto muito de arte, e adoro meus amigos. Falar de arte com meus amigos é uma das coisas que mais gosto na vida.
Tenho muito amor guardado em mim e amor não pode ser guardado, amor não é latente, amor é manifesto.
O que tenho então, deve ser uma vontade muito grande de amar, amar tudo e todos.
Sou um pouco tímida, queria olhar mais nos olhos das pessoas, abraçar forte, e dizer que amo com mais frequência. Tenho melhorado nesse aspecto... Acho importante alinhar o máximo possível quem somos no íntimo com quem somos por fora. E mudar o íntimo quantas vezes forem necessárias. "Também é ser, deixar de ser assim ".
Uso o mesmo perfume há 16 anos. Tenho a impressão que nunca vou enjoar de "Codinome beija-flor".
Sou de espírito alegre, não consigo ficar triste por muito tempo, mas confesso que quando pulo no lago da tristeza mergulho fundo. A tristeza é um poço pequeno, porém muito profundo. A alegria é rasa, é enxurrada numa rua bem larga. Ambas são convidativas...
Tenho tentado ser mais pragmática. Tenho um certo fascínio por verbos no imperativo. Algumas coisas aleatórias me dão alegria instantânea: bando de flamingos, deck de madeira, as palavras "betacaroteno", "Polaroid" e Yanomami, a expressão "braço de mar", a trilha de Star Wars, receber encomenda dos correios, roupa branca na luz negra, o primeiro gole de chá na caneca do Outback, camisa de linho, sorvete de chocolate belga, ler ou ouvir meu apelido "Gi" seguido de muitos "i(s)", imagem da Costa Amalfitana, molho pesto, partitura de música, pés descalços no carpete... Algumas coisas aleatórias também me dão raiva instantânea, mas não delongarei o texto falando disso.
Acho que um pouco da minha implicância com autodefinição se deve ao fato de que ela nunca ficará completa nem será definitiva e muito provavelmente ficará obsoleta com o tempo, mas e daí?! Já dizia o poeta que "é sempre melhor o impreciso que embala do que o certo que basta"!